Caminhos da fé têm obras de arte
Gália preserva conjunto de pinturas da década de 50 do artista plástico ítalo-brasileiro Bruno Giusti: Lins e Ibitinga incentivam o turismo religioso
Aurélio Alonso
Aurélio Alonso |
Prefeitura de Ibitinga |
Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é um reflexo do potencial turístico religioso de Ibitinga, a Capital do Bordado |
Divulgação |
O italiano naturalizado brasileiro Bruno di Giusti deixou várias pinturas sacras na matriz de Gália |
As procissões e templos religiosos guardam acervos de artistas plásticos notáveis, alguns desconhecidos dos fiéis. A região teve forte influência do catolicismo, mas a imigração também trouxe praticantes de religião protestante, ortodoxa e budista.
Os templos, além de servirem para oração e cultos, também são verdadeiros acervos de artistas plásticos ou de preservação de arquitetura.
As cidades de Lins e a estância turística de Ibitinga já contam com o segmento religioso como um fator de atração ao turismo religioso.
A Capital do Bordado, por exemplo, alavancou a sua economia com a organização de procissão de Corpus Christi usando enxovais estendidos pelas ruas da cidade. Outro evento é a Via Sacra ao vivo, mas há dez anos já tem outro evento que atrai centenas de pessoas: a festa de Nossa Senhora dos Navegantes com participação de vários barcos percorrendo as águas do rio Jacaré-Guaçu. A última edição ocorreu domingo (3).
O secretário municipal de Turismo de Ibitinga, André Racy, confirma que o evento atraiu fiéis católicos de cidades como Barra Bonita, Bauru, Bariri, Campinas entre outras.
Lins também já tem Caminhos da fé que vem sendo divulgado por rede hoteleira com 22 empreendimentos no Brasil. O roteiro é oferecer a seus hóspedes visitas a santuários católicos, igreja ortodoxa, templos metodista e budista.
O guia foi sistematizado pela Prefeitura de Lins desde 2010 e divulgado em seu site com informações dos atrativos. O turismo religioso é complementar em Lins, mas tem visibilidade, porque quem divulga é a iniciativa privada por intermédio de uma rede de hotel com unidade na cidade.
A gerente de turismo da prefeitura de Lins, Maria Carolina de Miranda Simões Pereira, revela que a cidade se notabilizou pelo turismo de negócios, no entanto, mesmo o turismo religioso sendo complementar tem virado uma opção a mais para atrair visitantes.
Na região, há, no entanto, acervos artísticos de artista renomados não tão divulgados, como as obras do italiano naturalizado brasileiro Bruno Giusti, que produziu um conjunto de 15 pinturas das décadas de 50 que revivem passagens bíblicas. Esse acervo, bem preservado, está na igreja São José de Gália (70 quilômetros de Bauru) sem ter muita divulgação e nem uma estrutura para visitação no município.
O artista plástica faleceu em agosto de 2011, em Gália, e tem um vasto acervo de pinturas em Sorocaba, Marília, Bragança Paulista, Rio de Janeiro, Piedade, São Manuel, entre outras cidades.
Gália preserva obra de Bruno di Giusti
Conjunto de pinturas com passagens bíblicas da década de 50 ornamenta a igreja São José, mas é pouco explorada como turismo religioso
Fotos: Aurélio Alonso |
Igreja São José de Gália, onde está o acervo do italiano Bruno Giusti aberto à visitação |
Painel pintado no teto do templo católico de Gália |
Os mais jovens nascidos no município desconhecem, mas quem nasceu nos anos 50 sabe da importância do italiano radicado no Brasil Bruno di Giusti, um dos mais importantes pintores de obras sacras que deixou um acervo belíssimo de pinturas de figuras bíblicas nas paredes da igreja São José, de Gália, onde chegou a residir por um período depois de ter feito muitas obras na região de Sorocaba e no Estado. É um acervo que se enquadra no chamado turismo religioso que o município poderia divulgar e atrair visitantes.
O pintor faleceu em agosto de 2011 em idade avançada com Alzheimer, em Garça, onde estava morando com a esposa e a filha. Di Giusti veio da Itália no período pós guerra e se estabeleceu por longo anos em Sorocaba, onde foi descoberto o seu talento para obras sacras. É dele a decoração de oito capelas e da igreja catedral sorocabana.
Em Gália, ele deixou um conjunto de 15 pinturas da década de 50 em estilo clássico que revivem passagens bíblicas na igreja São José de arquitetura neogótica. Todo esse acervo ainda não está tombado pelo patrimônio histórico estadual.
O próprio pintor já bem velhinho ajudou a fazer a restauração de toda a sua obra em 2002 na igreja São José junto com a sua segunda esposa Teresinha Specian. Por causa de infiltrações no teto da igreja havia provocado a deterioração de parte das pinturas.
Na época os moradores fizeram uma ampla campanha para angariar recursos para preservação do acervo. Dona Dalva Rizzi Bassan, atualmente morando em Bauru, ajudou a enviar as cartas para fiéis para viabilizar a restauração quando ela residia em Gália.
Dona Dalva conheceu o pintor Di Giusti quando morou no município. "O que me impressionou mesmo com a sua idade avançada, ele subia nos andaimes sem qualquer tipo de proteção para refazer as pinturas. Ele participou de tudo. Na época morou numa casa onde antigamente era a avenida Paulista, atual João Ferreira", relembrou.
O acervo é bem preservado, mas chama mais atenção de pessoas de fora do que os próprios moradores da cidade.
Laerte Mazetto, atualmente morando na capital, tem a recordação de infância quando vivia no município e chegou a ver Bruno di Giusti deitado em cima de andaime próximo do teto, fazendo os desenhos, que são as imagens bíblicas que ornam toda a igreja.
A matriz São José foi inaugurada em 1926, mas antes havia uma pequena capela de madeira que foi erguida em 1902. "Era uma figura carismática, morou em um sítio e vi muitas vezes ele e sua esposa andando pelas ruas de Gália", relembra Laerte.
De acordo com Dona Dalva, Bruno esteve por dois períodos na cidade. A primeira foi nos anos 50, quando residiu com a família e fez as pinturas. A filha dele, Maria Pia, foi aluna de uma professora irmã de dona Dalva.
O pintor residiu por muitos anos em Sorocaba. Já nos 90 anos, ele foi morar em Garça.
O padre Marcos Pavan foi pároco em Gália durante três anos e atualmente está em Bauru. Também conheceu o pintor Bruni di Giusti. "As pinturas são uma catequese, convida sempre à oração, ao aprofundamento, à introspecção", cita.
Teresinha Specian morou com o artista plástica durante 20 anos. Foi esposa dele e auxiliou quando ele precisou fazer a restauração das obras sacras. "A restauração demorou de cinco a seis meses no início do ano 2000", relembra.
Bruno foi convidado para fazer a pintura na igreja São José. Teresinha relembra que todos os trabalhos foram convites feitos pelos padres e fiéis. "A pintura foi a vida dele. O trabalho dele era perfeito. Para mim ele foi um Michelangelo", elogiou Teresinha.
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto florentino, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente.
Obra em várias cidades
A obra de Bruno Giusti é muito ampla. Na região ele fez todo o conjunto de pinturas da igreja São José de Gália e também tem pinturas na igreja Matriz e na capela do Seminário Maior, em São Manuel.
De acordo com informações da pesquisa da jornalista Giselle Neves Moreira de Aguiar, as demais participações do artista plástico estão na igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Pilar do Sul; do presbitério da igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Porto Feliz; da igreja Matriz de Anhumas; das igrejas de Marília e de Buri; das telas da Via-Sacra da Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Piedade; do batistério e da Via-Sacra da Paróquia de São Benedito, em Salto; da igreja de São João Batista, em Rio Claro; da igreja do Bonfim, em Campinas; da Basílica de Santa Terezinha, no Rio de Janeiro; e da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Moema, São Paulo, capital, e Catedral de Sorocaba.
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Nesse quadro um dos personagens bíblicos que entrega a chave a Jesus é aurretrato de Bruno |
'Conciliou erudição com cultura popular'
A jornalista Giselle Neves Moreira de Aguiar escreveu um livro que é um ensaio sobre o pintor Bruno di Giusti. O material disponível na Internet relata que o artista plástica conciliou a erudição da Escola de Belas Artes de Veneza, na Itália, com a cultura popular de Sorocaba retratada nos anos 50 do século 20.
A igreja São José de Gália é citada na obra de Giselle. A publicação foi produzida em 2013 a partir do trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social na Universidade de Sorocaba. A jornalista recorreu a arquivos de jornais e internet e da observação in loco.
Nesse material de 55 páginas traça uma trajetória da vida do artista plástica que é citado como "ítalo-sorocabano".
Giselle também ressalta que o pintor inovou e tinha uma característica manifestada já nos primeiros trabalhos em Sorocaba. Conforme relato do historiador e jornalista José Benedito de Almeida Gomes, o negro escravo que aparece no altar de Nossa Senhora Aparecida é o retrato de um andarilho da cidade na época, e o rosto do anjo ao lado do Evangelista São Mateus retrata um menino que gostava muito de vê-lo trabalhar, o sobrinho do pároco, padre Chiquinho (monsenhor Francisco Cangro). O menino era Paulo Francisco Mendes, ex-prefeito e ex-vereador da cidade.
Dona Dalva Rizzi Bassan, que residiu em Gália, relembra que nas pinturas da igreja São José Di Giusti usou as feições de um padre para ser um dos personagens bíblicos. Também fez uma espécie de autorretrato para deixar "imortalizado" a imagem do pintor. "Tem muito dele nos quadros. Na pintura da parte central onde tem Jesus entregando a chave do céu a São Pedro em cima do altar da igreja, lá tem ele, o diretor do grupo escolar Galdino Ribeiro e o padre Caetano, que respondia pela paróquia na época. Depois teria havido uma desavença entre ele e o padre Caetano. Bruno decidiu, então, no decorrer da pintura misturar as características de outra pessoa", relembra.
O menino Jesus, ainda criança que está em um dos quadros, tem feições da filha do pintor, Maria Pia, conta dona Dalva. "Esse quadro é onde aparece o São José e está ao lado do altar. O menino Jesus com as características da filha", relembra.
Cidade de Lins tem Caminhos da Fé
Hotel tem em seu roteiro os diversificados templos religiosos e santuários regionais para visitas, que incluem igrejas metodista, católica e budista
Prefeitura de Ibitinga |
Barco todo ornamentado faz parte da procissão a Nossa Senhora dos Navegantes, em Ibitinga |
Desde 2010 a Prefeitura de Lins sistematizou em seu site informações de um roteiro com uma série de atrativos, que vão de santuários católicos e igrejas ortodoxas a templos metodistas e budistas. A cidade tem a designação de Município de Interesse Turístico (MIT) da Secretaria Estadual de Turismo voltado no chamado turismo de negócios e de lazer.
O turismo religioso é complementar, mas tem visibilidade, porque quem divulga é a iniciativa privada por intermédio de uma rede de hotel e balneário com unidade na cidade.
O último levantamento referente a 2017 - o do ano passado ainda está sendo elaborado - registrou o ano todo a visita de 210 mil turistas. Os números são "conservadores" com base na entrada e saída de hóspedes dos estabelecimento hoteleiros.
A gerente de turismo da prefeitura, Maria Carolina de Miranda Simões Pereira, acredita que há muito mais pessoas visitando à cidade, porém a administração não tem quantificar esses números. "Tem muito mais, não temos um controle de entrada e saída no município. Há aqueles que vem por conta própria que não ficam em hotéis, há os que alugam ranchos no bairro rural Dourado, provavelmente tem muito mais", ressalta a gerente.
Mesmo sendo turismo complementar, o roteiro religioso ganhou atenção do Blue Tree Park Lins, maior complexo de águas termais da região, do qual incluiu o guia para divulgar como opção de hospedagem para seus hóspedes.
De acordo com Maria Carolina, embora o município não divulgue como um roteiro comercial, o turista que tiver interesse pode ir em cada ponto conforme seu interesse. Na elaboração do Plano de Turismo para obter o MIT, a cidade inclui o roteiro religioso no Plano de Turismo.
O hotel balneário divulga como "Caminhos da Fé", nome semelhante a outros roteiros existentes no Estado.
No guia consta por exemplo visita a Catedral Diocesana Santo Antônio de Pádua, a Igreja Dom Bosco e o Santuário Diocesano Nossa Senhora de Fátima, as principais atrações deste segmento, mas a cidade, por ser berço da colonização japonesa no Brasil, tem presença forte da comunidade no município, onde abriga dois templos: Taissenji Homom Butsuryushi do Brasil e Honpa Hongwanji.
Há também a Igreja Ortodoxa Grega erguida em 1958, construção com importantes características históricas, em que a sua estrutura tem como destaque o teto em alusão à Arca de Noé. É o primeiro templo e honra à Aya (Panaghya) Tsambika construído fora da Grécia - há outros dois na própria ilha de Rhodes e, um posterior a este de Lins, construído na ilha de Chipre, único em todo o continente americano e primeiro templo da Igreja Ortodoxa Grega (Patriarcado de Constantinopla) edificado no Estado de São Paulo, popularmente conhecido de "Igreja dos Gregos". O prédio tem as características típicas dos monumentos arquitetônicos de estilo bizantino.
O roteiro é diversificado e inclui templo da igreja metodista, inaugurado em 1916, antes mesmo da fundação da cidade de Lins. A "Igreja Jesus é o poder" do ramo pentecostal também é uma das principais atrações de fé no destino.
Prefeitura de Ibitinga |
Procissão de barcos em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes foi realizada no último final de semana, no rio Jacaré-Guaçu |
Ibitinga expande turismo religioso
No último domingo, a procissão em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes atraiu fiéis católicos de cidades como Barra Bonita, Bauru, Bariri e até de Campinas às águas do rio Jacaré-Guaçu. O evento realizado há 11 anos já é terceiro em relevância na estância turística de Ibitinga, a Capital do Bordado.
"A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é um reflexo do potencial turístico religioso de Ibitinga. A estrutura municipal oferece opções neste segmento e garante uma movimentação grande de pessoas ao longo do ano", informou André Racy, secretário de Turismo e Ibitinga.
O Corpus Christi é o ponto alto do turismo religioso na cidade. Em um só dia, o evento pode movimentar mais de 20 mil turistas. Os fiéis participam de missa seguida de uma procissão especial conduzida pelo padre. O caminho da procissão é feito por meio de enxovais e bordados estendidos pelas ruas da cidade.
O turista religioso ainda pode conhecer a Cripta do Servo de Deus Nelsinho Santana, que morreu aos 9 anos de idade e está em processo de canonização no Vaticano. A cripta fica ao lado da Igreja Matriz, outra atração à parte pela beleza de sua estrutura.
Ibitinga ainda possui, no Calendário Turístico do Estado de SP, o evento da Via Sacra Ao Vivo, uma mega apresentação da Paixão de Cristo, feita a céu aberto na Páscoa com 160 atores. A Via Sacra Ao Vivo existe há mais de 30 anos com coreografia e cenários próprios da época, seguindo fielmente o texto bíblico e uma festa de fogos de artifício ao final.
O turismo religioso ainda se une aos peregrinos. No mês de dezembro, inaugurou-se o Ramal Centro Paulista, do Caminho da Fé. Ele tem início em Borborema e vai até São Carlos, passando por Ibitinga e outras cidades da região. É um dos trechos destinados a ciclistas e pedestres que querem ch
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